quarta-feira, 22 de junho de 2011

APRENDA A TRANSPORTA PEIXES VIVOS GRATIS

Mais profissionalismo no transporte de peixes vivos

 Entre 1994 e 1997, os pesque-pagues da Região Sudeste
viveram anos de glória. As boas margens de lucro na venda
dos peixes e um número cada vez maior de adeptos da pesca
recreativa impulsionavam um atrativo e movimentado comércio
de peixes. As condições do transporte de peixes vivos, no entanto,
eram muito precárias e os transportadores que atuavam no setor
desconheciam técnicas seguras e eficientes de transporte. Em
1995, quando retornei ao Brasil após o doutorado no Alabama,
tomei ciência da precariedade do transporte vivo que atendia
os pesque-pagues em São Paulo, e que não era diferente do
existente em outros estados. Caminhões equipados com bombonas
de 200 litros eram, na ocasião, o mais sofisticado meio de
transporte de peixes vivos. Em alguns casos, a própria carroceria
dos caminhões, revestida com um encerado, era adaptada para
transportar peixes. Até hoje essas imagens ainda podem ser
vistas nas estradas do país.

Na ocasião o único peixe que se transportava com relativo
sucesso era o bagre africano, que é capaz de respirar o ar atmosférico,
não dependendo de um suprimento de oxigênio nos “recipientes”
então usados no transporte. Foi com o intuito de ajudar a reverter
este quadro que, com a colaboração de amigos como o Eduardo
Ono e a Alexsandra Caseiro, bem como de colegas piscicultores e
proprietários de pesqueiros, comecei a realizar ensaios de transporte
de peixes vivos, tanto de alevinos como de peixes de porte para
a pesca. Entre 1996 e 1997, em Piracicaba, SP, o Eduardo Ono e
eu ministramos os primeiros cursos sobre o transporte de peixes
vivos, onde procuramos repassar o que havíamos aprendido tanto

Por:

Fernando Kubitza, Ph. D.

Acqua Imagem Serviços Ltda.
fernando@acquaimagem.com.br

nos ensaios realizados no campo, como em nossa feliz experiência
com produção de peixes no Alabama. Estes cursos receberam piscicultores,
proprietários de pesqueiros e transportadores de peixes
de diversos estados. Ainda em 1997, embalado de uma palestra
realizada durante a IFAS, escrevi uma matéria sobre transporte de
peixes vivos aqui nesta revista. Em 1998, fruto de todo o material
organizado para estes cursos, foi publicado o livro “Técnicas de
Transporte de Peixes Vivos”. Desde então tive a oportunidade de
continuar trabalhando diretamente com o transporte de peixes e de
ministrar um bom número de cursos sobre este tema a produtores
e profissionais de diversas regiões do país.

Hoje já contabilizamos mais de 15 anos de pesque-pague
na Região Sudeste e mais de 10 anos de esforços divulgando técnicas
de transporte de peixes vivos. Além disso, há alguns anos
os transportadores de peixes têm, a sua disposição, equipamentos
de primeira linha fabricados no Brasil para o transporte de peixes,
possibilitando a aposentadoria das bombonas e das carrocerias com
encerados. Além do mais, com a internet, qualquer profissional
hoje pode ter acesso a excelentes informações técnicas sobre o
transporte de peixes vivos. Mas, mesmo assim, ainda são freqüentes
os problemas e insucessos no transporte de peixes vivos. E isso se
deve, basicamente, à pura falta de interesse dos transportadores
em aprender mais sobre os fundamentos básicos do transporte de
peixes vivos. Assim, relatando alguns casos relacionados ao transporte
de peixes, esta matéria traz à atenção dos transportadores
uma discussão aplicada sobre os principais requisitos que devem
ser observados no transporte de peixes vivos.

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Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007



Um grande contra-senso

O transportador de peixe profissional investe hoje uma
considerável quantia de dinheiro na compra e montagem de
um caminhão com equipamentos de transporte de primeira
linha (caixas isotérmicas, centrais de distribuição de oxigênio,
oxímetro, entre outros). No entanto, dá pouca importância à
capacitação técnica das pessoas que realizam o transporte, ou
seja, dele próprio ou de terceiros, que geralmente são contratados
para dirigir o caminhão. O resultado desse descuido é o
transporte ineficiente e de alto risco.

Os fundamentos para o transporte seguro de peixes vivos

O sucesso no transporte de peixes vivos depende da atenção
para quatro requisitos básicos:

• Um adequado jejum (depuração) dos peixes;
• O abaixamento e controle da temperatura da água no transporte;
• O condicionamento da água de transporte com o sal;
• O adequado suprimento de oxigênio durante o transporte.
Sobre a depuração (jejum) dos peixes - dos quatro principais
requisitos, o único que pode escapar ao controle do transportador
é a qualidade do jejum. Isso é uma responsabilidade do fornecedor
do peixe vivo. No entanto, a qualidade do jejum pode ser avaliada
no momento do carregamento e o transportador pode optar ou
não em carregar o peixe. O transportador, no entanto, deve dar
um retorno aos seus fornecedores quanto à qualidade do jejum
imposto aos lotes de peixes já transportados e sugerir alterações
para que sejam realizadas depurações mais eficientes.

1º caso:

"Um produtor de tilápia em tanques-rede me

fez a seguinte afirmação: eu deixo os meus
peixes apenas uma noite de jejum antes do
transporte, pois se eles ficarem mais tempo
do que isso sem comer, eles ficam muito
fracos e não agüentam o transporte."

O referido produtor está muito mal informado. O jejum
é fundamental no preparo do peixe para o transporte. Peixes em
jejum consomem menos oxigênio, excretam menos amônia e
gás carbônico na água, toleram melhor o manuseio e apresentam
maior sobrevivência após o transporte. Com o trato digestivo vazio,
os peixes também não sujam a água com suas fezes, reduzindo
assim a carga bacteriana na água e o risco de infecções durante o
transporte. Quanto maior o peixe, maior sua reserva de energia
corporal (nos depósitos de gordura). Assim, peixes grandes que
foram adequadamente alimentados durante a produção, podem
ficar muitos dias em jejum, sem prejuízo à sua saúde e vigor. No
entanto, para fins de transporte, um jejum de dois dias (48 horas)
é suficiente para esvaziar adequadamente o trato digestivo destes

peixes. No caso de alevinos, o jejum deve ser de pelo menos 24
horas para as espécies onívoras. No caso de alevinos de peixes
carnívoros, que armazenam maior quantidade de alimento
e retêm por mais tempo a ingestão, o jejum deve ser de no
mínimo 48 horas, salvo situações em que pode haver o risco
de canibalismo durante o transporte. Caso os peixes sejam
carregados diretamente dos tanques de terra, em particular no
caso de tilápias e outros peixes planctófagos, é recomendado
suspender o fornecimento de ração pelo menos 48 horas antes
do carregamento. Ainda assim poderá haver alimento natural
no trato digestivo, porém isso é melhor do que se os peixes
estivessem empanturrados com ração.

Sobre o controle da temperatura nas caixas de transporte

2º caso:

Transporte
"Um transportador chegou na piscicultura

para um carregamento de alevinos. As caixas
já com água, prontas para o carregamento. A
temperatura da água nas caixas era de 31ºC.
Perguntei a ele se ele pretendia fazer um
ensopado com os alevinos. Não teve outro
jeito senão esvaziar as caixas e colocar uma
água mais fria."

O controle da temperatura da água é fundamental. Sob
baixas temperaturas os peixes consomem menos oxigênio,
excretam menos amônia e gás carbônico, ficam mais calmos e
toleram melhor o manuseio, o que resulta em maior sobrevivência
pós-transporte. Transporte algum de peixe vivo deve ser
feito em águas com mais de 25ºC. Idealmente, a temperatura
da água deve ser abaixada para próximo de 20ºC, mesmo para
peixes de águas tropicais. Isso geralmente é feito com o uso de
gelo. No ato do carregamento, a água nas caixas de transporte
deve ficar cerca de 3 a 4ºC mais fria do que a água onde estão
os peixes. Isso ajuda a abaixar a atividade dos peixes logo após
a estocagem nas caixas. Assim, se os peixes estão estocados em
um tanque com água a 28ºC, na caixa, a temperatura deve ficar
ao redor de 24ºC. Durante o carregamento, com o calor do corpo
dos peixes, a temperatura da água das caixas se eleva, o que
exige uma periódica adição de gelo até o final do carregamento.
Finalizado o carregamento, mais gelo deve ser adicionado à
caixa, de forma a reduzir a temperatura para próximo de 20ºC.
O consumo de oxigênio a 20ºC chega a ser equivalente à metade
do consumo de oxigênio registrado a 28oC.

No momento do descarregamento, os peixes devem ser
aclimatados à água de destino, bombeando a água do tanque
para dentro da caixa de transporte. Isso ameniza as diferenças na
temperatura, pH, oxigênio, salinidade, dentre inúmeros outros
parâmetros, entre a água de transporte e a água de destino.

Sobre o uso do sal

Usado em doses fisiológicas (entre 3 e 8g/litro ou 3 e
8kg/1.000 litros), o sal melhora a sobrevivência dos peixes du-

Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007 37




rante e após o transporte. O sal possui pelo menos três ações
benéficas sobre os peixes:

a) facilita a manutenção do equilíbrio osmoregulatório,
pois deixa a concentração de sais na água mais próxima
da concentração de sais no sangue dos peixes, além de
aumentar a produção de muco nas brânquias, que ajuda a
reduzir as perdas de sais do sangue para a água;

b) o sal estimula um aumento na produção de muco sobre
o corpo, o que ajuda a recobrir ferimentos decorrentes
do manuseio. Isso reduz o risco de infecções secundárias
por bactérias e fungos;

c) a presença do íon sódio (Na+) na água favorece um
mecanismo ativo de eliminação da amônia do sangue para
a água, o que é muito importante no transporte de peixes
em altas densidades de carga.

Mesmo sendo estas afirmações comprovadas cientificamen-
Transportes
te, bem como na prática, ainda há produtores que desconhecem
e até mesmo negam os benefícios do sal no transporte. Um fornecedor
de alevinos se recusou a colocar sal nas embalagens de
peixes. Somente o fez quando paguei pelos peixes adiantadamente
e assumi a responsabilidade pelo uso do sal. E ainda por cima, um
sal que eu mesmo levei por precaução, pois sequer havia sal na
piscicultura. Em outra ocasião, um transportador afirmou taxativo
que não usava sal na água de transporte, pois o sal queima e mata
os peixes. Obviamente, se errar na dose, o sal pode estressar os
peixes e até matar. Mas não nas doses fisiológicas empregadas no
transporte de peixes vivos.

3º Caso:

"Em um carregamento de tilápias para
um pesqueiro, perguntei ao motorista do
caminhão quantos quilos de sal ele colocava
na caixa de transporte. A resposta veio de
imediato: “depende da quantidade de peixe
colocada em cada caixa”. E daí em diante
seguiu uma profunda explicação de como se
tempera peixe vivo com sal."


4º Caso:

"Numa fazenda de produção de alevinos, o
responsável me explicou quanto de sal usava no
transporte: “em cada saco plástico eu coloco
15 litros de água e uma pitadinha de sal”.
Argumentei com ele dizendo que, para os 15
litros de água da embalagem, essa pitadinha
deveria ser algo entre 45 e 120 gramas de sal

(falei isso mostrando em minha mão um punhado
de sal com cerca de 80g). No que ele respondeu:

“cê tá louco? É só uma pitadinha mesmo”. E foi
logo distribuindo sal na embalagem como quem
tempera uma salada no prato."

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Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007



Sobre o adequado monitoramento do oxigênio

5º Caso:

"Este eu ouvi do motorista de um caminhão
de transporte: “meu patrão pediu para manter
o oxigênio entre 7 e 9." Quando olhei o
fluxômetro das caixas, a regulagem estava
exatamente no 8, e ainda nem havia começado
o carregamento. Acho que o motorista veio até
a piscicultura com o oxigênio ligado. Ordem
cumprida. Na água das caixas, o oxigênio

estava acima de 20mg/litro (não pude ler
mais alto, pois o meu oxímetro só lia até 20).

Provavelmente deveria estar acima de 50.
Dentro da cabine do caminhão, um oxímetro
zerado, ainda na caixa e embrulhado no
plástico. O motorista mal sabia ligar o aparelho,
quanto muito poderia monitorar o oxigênio na
água durante o transporte."

Situações como estas refletem a pouca importância que
alguns transportadores dão à capacitação de seus funcionários
(motoristas) e até mesmo à sua própria capacitação. Muitos não
contam com um oxímetro para verificar como está o nível de
oxigênio na água das caixas durante o carregamento e o transporte.
Assim, gastam mais oxigênio do que deveriam e ainda
correm um grande risco de matar os peixes, seja pela falta ou
pelo excesso de oxigênio na água. Alguns transportadores investiram
na compra de um oxímetro, porém não fazem a mínima
idéia de como usá-lo no monitoramento do transporte. Alguns
sequer sabem calibrar o aparelho.

Grande parte da mortalidade de peixes durante o transporte
pode ser atribuída a um descuido na oxigenação das caixas.
Durante o carregamento, momento de maior agitação e consumo
de oxigênio pelos peixes, o transportador deve assegurar uma
concentração de pelo menos 4mg de oxigênio/litro na água das
caixas. Neste momento a concentração de gás carbônico ainda é
baixa e não prejudica tanto a respiração dos peixes. No entanto,
ao longo do transporte a concentração de gás carbônico vai se
elevando e pode atingir níveis capazes de asfixiar os peixes.
Concentrações de gás carbônico acima de 40mg/l são comuns
quando se transporta altas cargas de peixes a granel, principalmente
quando não se cuidou de abaixar a temperatura da água
para diminuir o metabolismo dos peixes, ou mesmo quando o
jejum não foi bem aplicado. Sob altas concentrações de gás
carbônico, o transportador deve manter o nível de oxigênio
mais elevado na água. Assim, é recomendável, ao longo do
transporte, que a concentração de oxigênio seja mantida entre
8 e 13mg/litro (medida com o oxímetro e não na regulagem do
fluxômetro). Isso facilita a respiração dos peixes mesmo sob
elevadas concentrações de gás carbônico.

O transportador deve monitorar o oxigênio continuamente
ao longo do transporte. No quadro 1 segue o exemplo

de uma tabela simplificada, com o monitoramento do
oxigênio e ajuste do fluxômetro durante um transporte. O
transportador pode incrementar esta tabela ao seu gosto
com informações sobre a origem dos peixes, espécie
transportada, carga em cada caixa, horário de início e
final de carregamento e descarregamento e outras informações
que julgar importante. No entanto, importante
mesmo é monitorar continuamente o oxigênio e ajustar

o fluxômetro. Nas primeiras 3 horas de viagem o ideal é
verificar o oxigênio nas caixas de hora em hora, ajustando,
sempre que necessário, a regulagem dos fluxômetros.
Observe no quadro 1 que, durante o carregamento, na
Caixa 1 o oxigênio estava em 5,2mg/litro e o fluxo foi
ajustado em 6 litros/minuto. Um pouco mais tarde, na
saída do caminhão, com este fluxo de 6 litros/minuto
o oxigênio já havia subido para 8,0mg/litro na referida
caixa. Assim, o fluxo foi reduzido para 5 litros/minuto
para que o oxigênio não se elevasse demasiadamente
neste início de transporte. Com pouco mais de uma hora
na estrada, o oxigênio na Caixa 1 continuou subindo e
chegou a 9,2mg/litro. Novamente o fluxo foi reduzido,
desta vez para 4 litros por minuto. Ainda assim o oxigênio
continuou subindo e, cerca de uma hora e vinte
minutos depois, chegou a 12,4mg/litro. O fluxômetro foi
novamente reajustado, desta vez para 3 litros/minuto. A
partir daí o oxigênio na Caixa 1 foi se estabilizando. Note
que, até o final do transporte, o fluxo de oxigênio foi
gradualmente reduzido até chegar ao final do transporte
com 2 litros/minuto e o oxigênio estabilizado entre 12 e
14mg/litro. Se não houvessem esses reajustes de fluxo,
certamente o oxigênio na caixa estaria extremamente
elevado em se mantendo o mesmo fluxo de oxigênio
do início do transporte (5 litros/minuto). Durante esse
monitoramento o transportador deve evitar que o oxigênio
exceda a concentração de 15mg/l. O excesso de
oxigênio na água pode prejudicar os peixes e aumentar
a mortalidade durante e após o transporte. Além disso,
com um fluxo exagerado de oxigênio, pode ocorrer uma
formação excessiva de espuma na água, o que é ainda
mais agravado quando os peixes foram mal depurados
e defecam demais na água.
Fazendo um monitoramento como o ilustrado no
Quadro 1, provavelmente com cerca de 3 a 4 horas de
transporte é possível chegar a uma regulagem adequada
no fluxômetro para a carga de peixe em cada caixa do
caminhão. Daí em diante, o monitoramento do oxigênio
pode ser feito a cada duas horas, com ajustes no fluxômetro
sempre que necessário.

Sem contar com um oxímetro é impossível ter a
certeza de ter regulado corretamente o fluxo de oxigênio.
Assim, ao longo do transporte o oxigênio pode se elevar
muito, ou mesmo ficar deficiente, caso a regulagem do
fluxo esteja muito baixa. Ocorrendo um déficit de oxigênio,
parte dos peixes da carga acaba morrendo. Com
a morte de parte da carga, a concentração de oxigênio
volta a subir, para alívio dos peixes que ainda não

Transporte
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007 39




Transportes
morreram. Isso tudo ocorre sem que o transportador
perceba, se ele não estiver fazendo o monitoramento
do oxigênio. Somente ao chegar no destino e abrir a
caixa o transportador notará a mortalidade de parte
da carga. Como a outra parte ainda está viva, ele não
acredita que possa ter faltado oxigênio naquela caixa
durante a viagem, pois em seu entendimento, se faltou
oxigênio todos os peixes deveriam ter morrido. Mas
faltou. E faltou o suficiente para matar os peixes mais
sensíveis ou de maior demanda bruta de oxigênio
(geralmente os maiores peixes do lote). Para tirar
qualquer dúvida, é só verificar se os peixes mortos
apresentam a boca e opérculos abertos, sinal típico da
morte por asfixia. Muitas vezes se perde a carga toda
assim. E a responsabilidade por isso não pode ser de
outro, senão do transportador.

Cargas seguras no transporte de peixes vivos

Quando os transportadores não respeitam ou
não aplicam os fundamentos básicos do transporte
de peixes, significativas mortalidades podem ocorrer,
mesmo sob baixas cargas. A primeira reação do
transportador diante da perda de uma carga é reduzir
ainda mais as cargas nas próximas viagens, achando
que a causa da mortalidade foi o excesso de peixes.

Quadro 1 - Planilha de controle de oxigênio no transporte


Com o passar do tempo, o transporte começa a ser realizado
com cargas muito baixas e ineficientes, e estes transportadores
despreparados, com os elevados custos de transporte, acabam
saindo do circuito.

Realizando um adequado jejum, abaixando a temperatura
da água, monitorando adequadamente o oxigênio e condicionando
a água com o sal, as cargas de peixes vivos podem ser otimizadas
com segurança. No quadro 2 são apresentadas sugestões de cargas
segurasparaotransportedepeixesvivosparapesqueiros,respeitando
os quatro fundamentos do transporte anteriormente discutidos.

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Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007



Quadro 2 -Cargas seguras para o transporte de

peixes
vivos
para
pesca
recreativa
(kg/caixa
de

1.000 litros)
Precauções adicionais para aumentar a
segurança no transporte

Além de todo o cuidado no preparo do peixe e na condução
do transporte, os transportadores devem estar sempre atentos
às condições dos equipamentos, fazendo revisões freqüentes nas
mangueiras, nos difusores, nos fluxômetros e manômetros, na
motobomba usada para a aclimatação dos peixes, nos oxímetros,
puçás, entre outros. Ou seja, um check-up periódico de todo o
equipamento, além é claro do próprio caminhão.

O transportador também deve ter no caminhão equipamentos
de reserva. Por exemplo, um oxímetro de reserva e pilhas
extras. Diversos transportadores ficaram na mão por falta de
pilhas em lugares remotos, ou então com o mau funcionamento
do único oxímetro disponível no caminhão. Ainda há casos de
extravio do oxímetro. Muitas vezes, por distração, o aparelho é
esquecido sobre uma das caixas do caminhão em uma das muitas
checagens de oxigênio ao longo da viagem. Para que isso não
ocorra, o motorista deve adotar o procedimento de nunca dar a
partida no caminhão sem ter certeza de que o oxímetro está do
seu lado. Fluxômetros e manômetros também podem apresentar
mau funcionamento durante um transporte e necessitarem de
troca. Assim, é bom ter um manômetro e pelo menos um jogo
extra de fluxômetro no caminhão.

Mangueiras podem apresentar furos que não foram detectados
antes da viagem. Tiras de borracha podem ajudar em
rápidos reparos nas mangueiras. Levar algumas abraçadeiras
sempre é bom, pois na eventual troca de um fluxômetro, uma
abraçadeira velha pode ser danificada. Uma caixa de ferramentas
também é muito útil (com chave de boca regulável, chaves de
fenda, alicate, abraçadeiras, lanterna, etc.). Sem falar, é claro,
de uma carga extra de oxigênio para se garantir no caso de
eventuais atrasos na viagem (causados por acidentes na pista,
desvios, engarrafamentos, demoras em postos fiscais, problemas
mecânicos no caminhão, etc.). Levar sal de reserva e gelo
para uma eventual troca de água no meio do caminho (seja esta
planejada ou não).

Levar hapas ou tanques-rede (apenas as malhas) pode
ajudar em situações de emergência: numa eventual emergência
que exija a retirada dos peixes das caixas, estes podem ser colocados
em hapas ou tanques-rede dentro de qualquer açude disponível
na beira da estrada e ali mantidos até a solução do problema.
Também é comum se chegar ao local de entrega e encontrar sem
condições de estocagem o tanque que foi preparado para receber
os peixes (oxigênio zerado por causa de uma adubação excessiva;
pH muito elevado devido a um recente preparo do tanque
com cal virgem; dentre outras situações não previstas). Neste

caso, os peixes podem ser provisoriamente estocados dentro
de um hapa em qualquer outro tanque com melhor condição
na propriedade. Caso o cliente não disponha de um hapa ou
tanque-rede, o transportador prevenido provê a solução.

Considerações finais

Que não se enganem aqueles que acreditam que transportar
peixes vivos é moleza e que basta montar um bem
equipado caminhão, colocar no seu assento um bom motorista
e o problema está resolvido. Para transportar peixes vivos com
segurança e eficiência é preciso investir em conhecimento,
contar com a ajuda e dicas de profissionais com experiência
no assunto e adquirir experiência prática acumulando boas
horas de transporte. Também é preciso saber selecionar bem
os fornecedores de peixes vivos, para não correr o risco de
transportar peixes debilitados, ou mal depurados e, ainda, inadequadamente
manipulados na despesca e no carregamento.
Mais do que isso, é preciso compartilhar os conhecimentos
com os fornecedores, para que estes compreendam as suas
responsabilidades e de que forma podem contribuir com o
sucesso do transporte. E, finalmente, é preciso estar preparado
para enfrentar situações inesperadas e que normalmente ocorrem
quando se tem uma carga valiosa em cima do caminhão
e, particularmente, quando o transportador está despreparado
(para explicar estas fatalidades é que foi inventada a famosa
Lei de Murphy). Portanto, estejam preparados.

Transporte
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007 41 

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